Dê valor a todo conhecimento adquirido!

Quando eu era mais novo e estava no colégio, frequentemente me questionava:

Aonde vou usar <coloque aqui o nome de uma matéria bem chata para você> na minha vida?”

Quem nunca pensou assim ?

No entanto, é normal termos este pensamento quando estamos adquirindo conhecimento em uma velocidade maior que a qual adquirimos experiência de vida.

O conhecimento é como uma caixa de ferramentas. Se você não tiver um problema para resolver, ela pode até parecer inútil. Mas basta aparecer uma necessidade para a qual você não tem as ferramentas necessárias, que rapidamente iremos dar valor à elas. Isto se chama experiência de campo, ou vivência.

Sendo assim, devemos dar valor a todo conhecimento adquirido, por menor que seja, pois ao final, estaremos complementando nossa caixa de ferramentas mental e estaremos muito mais preparados para os desafios da vida!

Não é incomum se aplicar conhecimentos de forma cruzada em analises e soluções complexas. Quando temos os conceitos mais elementares, estas sinapses ficam cada vez mais fáceis de se realizar. Nesta hora a educação básica lá da época do colégio vem à tona, representando as chaves de fenda e alicate da tua caixa de ferramentas mental.

Matemática é indiscutivelmente uma das disciplinas mais importantes na nossa formação. Ela nos permite quantificar e raciocinar sobre muitas coisas que nos rodeiam e está intimamente ligada com a nossa capacidade de comunicação e entendimento do mundo.

A Fisica é uma das disciplinas que nos ajuda a entender e explicar os fenomenos que acontecem ao nosso redor.

O mesmo acontece para disciplinas mais avançadas. Informática e eletrônica estão cada vez mais presentes em nossas vidas, sendo assim, este conhecimento está se tornando cada vez mais “básico”. Dispositivos cada vez mais conectados exigem um conhecimento mínimo em tecnologia da informação para que haja pleno uso de seus recursos.

Mas o que tudo isso tem a ver ?

Bem, pode não ser muito óbvio, você pode otimizar o alcance do seu wi-fi se posicionar a antena em um local propício. Este posicionamento será mais eficiente se você tiver o entendimento sobre como funcionam as ondas de rádio, por exemplo.

Utilizando conceitos simples de matemática você poderá determinar se um produto em embalagem família é realmente mais vantajoso/barato se comparado à embalagem normal.

Quer saber quantos quilômetros por litro de combustível seu carro está consumindo, mas não tem computador de bordo ? Sem problemas. A matemática está aí para isto.

Avançando um pouco mais: No meu trabalho utilizamos fibra óptica para a comunicação entre equipamentos. A aplicação de conceitos de física pode nos trazer vantagens adicionais no processo de determinação de problemas nesta comunicação.

Já diziam os antigos: Conhecimento é a única coisa que ninguém pode tomar de você.

Espero que este texto sirva de inspiração para que você continue na sua busca por conhecimento. Sempre que possível, farei referência à conhecimentos cruzados ao explicar meus projetos e ideias por aqui.

RELATO – TRILHA DO RIO BRANQUINHO

De uma beleza sem igual, a região da serra do mar nos premia com muitas trilhas, belas paisagens e muita, muita aventura. Fui convidado por um amigo para realizar uma trilha que para ele é uma verdadeira tradição. Há 33 anos que ele percorre este caminho sempre na mesma época do ano.

A trilha do Rio Branquinho não é um percurso fácil. A todo momento ela te desafia: Caminhada sobre leito de ferrovia, descidas em barrancos super inclinados e 90% do tempo pés molhados são apenas alguns dos desafios que se deve esperar durante esta aventura.

Com um percurso estimado em 58 Km, mais aproximadamente 14,5 Km até o ponto de ônibus mais próximo, a nossa caminhada teve aproximadamente 72 Km de extensão.

O convite

Soube dessa trilha a alguns anos, quando o tio do meu cunhado me contou sobre esta tradição. Embora eu tivesse certa experiência com trilhas leves e moderadas, eu tinha muito sobrepeso e uma trilha tão intensa estava muito além das minhas capacidades físicas. Os anos passaram, eu me submeti a um procedimento cirúrgico para tratamento da obesidade e eliminei muito peso. Em um aniversário da família, veio o convite para realizar esta caminhada. Aceitei na hora.

A Preparação

Com tempo de sobra para planejar, comecei a reunir e revisar equipamentos, ouvir os relatos das trilhas anteriores que meu amigo já havia realizado. Porém como um bom SV, a gente acaba exagerando em algumas coisas. E o exagero em equipamentos não combina com caminhadas longas e cansativas. Conversando com amigos experientes em longas caminhadas, fui aconselhado a eliminar diversas redundâncias de equipamentos, tais como facas, roupas e material de apoio como ferramentas. E ainda paguei caro por insistir em levar algumas redundâncias e levei muita coisa sem necessidade alguma.

Fica aqui um aprendizado muito importante: escolher bons equipamentos, conhecer e respeitar os limites operacionais deles é melhor do que levar redundâncias. Pois cada grama na mochila conta. Mesmo com as orientações dos amigos, eu vivi isso na pele nesta jornada.

Para esta aventura utilizei os itens mais comuns usados em acampamentos. Quase nenhum material super tecnológico. Isto teve um preço (peso) mas fazia parte da minha premissa em não gastar muito com a viagem e exercitar a minha criatividade para resolver alguns problemas que sabia que teria.

Separei a preparação em tópicos:

Um dos numerosos checklists para a aventura. Revisitei diversas vezes esses itens e deixei alguns de fora por orientação de amigos mais experientes.

Para dormir, fui no básico e funcional: Uma barraca, uma lona, um isolante térmico inflável e um saco de dormir. Tudo bem comum. O único item que adquiri para essa trilha foi o isolante térmico, pois queria algo mais compacto que o EVA, que é muito volumoso e ia ficar enroscando durante a trilha. E foi a melhor escolha que eu poderia ter feito.

Para comer eu levei um kit bem básico de fogareiro a gás, com uma caneca de 900ml. Preparei 3 refeições usando macarrão tipo lámen, enriquecido com proteínas e temperos alternativos a aquele salzinho cancerígeno. Levei também alguns snacks como cenoura, maça, paçoquinha e barras de proteína e cereais. Confesso que dei uma exagerada na comida, poderia ter passado bem com metade do que levei. Minha falta de experiência me fez carregar uns 500g extra de comida que acabei distribuindo pros amigos mais famintos.

Para beber eu levei uma bolsa de hidratação de 3 litros e um cantil de 900ml. Para esta trilha o cantil foi mais que suficiente pois existem muitos pontos de água durante o caminho. Levei também alguns saches de repositor eletrolítico em pó. Basicamente a versão em pó do Gatorade. Ajudou muito a levantar o moral após a descida infernal da encosta.

Outro ponto onde errei bastante foram nos itens de vestuário. Além da roupa do corpo (Calça, segunda pele, camiseta e gandola) levei uma muda de roupa extra, uma capa de chuva e alguns pares de meias. A ideia era trocar as meias para tentar manter os pés secos, mas isto se provou impossível, dada a quantidade de travessias de rio que este trajeto nos proporciona. A capa de chuva foi e voltou sem ser utilizada, 250 gramas que poderiam ter ficado em casa. Mesmo com tempo frio e uma garoa pesada na caminhada sobre os trilhos, não a utilizei, pois, estava com tanto calor que iria suar e ficar molhado do mesmo jeito. A gandola militar à primeira vista, parece adequada ao ambiente da caminhada, mas as costuras duplas dos ombros me incomodaram bastante. Tanto que no segundo dia estava com tanta raiva dela que acabei dando para um colega. Roupas militares definitivamente não são necessariamente confortáveis.

Na parte de ferramentas, levei uma faca Morakniv, um canivete simples para cortar a comida, uma lanterna de cabeça, uma lanterna de mão (redundância boba, ela foi e voltou sem uso), um kit para fazer fogo, que foi muito útil para acender a fogueira, 10m de paracord para fazer um varal e colocar uma lona sobre a área comum do acampamento, um bastão de caminhada, um kit de primeiros socorros e um rádio UHF/VHF (sou radioamador classe C).

Dia da partida

A tropa reunida na casa do Paulão (lado esquerdo, de pé). Foto tradicional antes da partida.

Nos encontramos as 23h na casa do Paulão, o patriarca da trilha, que não está mais realizando a travessia, mas seus filhos e netos continuam com a tradição. Tomamos um café reforçado, me zoaram com o peso da minha mochila (estava pesada mesmo), contamos piadas e iniciamos o esquenta para a aventura. À meia noite fizemos uma breve oração e embarcamos na van fretada para Evangelista de Souza.

Chegamos na estação por volta de 1h da manhã. Um baita frio junto de uma garoa, mas a disposição para a aventura falava mais alto. Nos despedimos do Paulão, que ficou emocionado por não poder ir conosco, mas prometemos que um dia ele irá nos encontrar lá embaixo ao final, e matar a saudade do amigo Zé Pretinho, companheiro e anfitrião do grupo por tantos anos.

Desembarcamos, pegamos as mochilas e sem pensar muito na garoa e no frio, começamos a pernada de 5h até o túnel 24.

O prego no sapato

Caminhar sobre o leito da ferrovia é muito perigoso e requer atenção redobrada. As pedras, geralmente soltas, deixam a pisada instável. Peças de manutenção são largadas pelo caminho. É bastante comum encontrar parafusos, porcas, grampos etc. Normalmente são peças grandes e não oferecem risco direto para quem caminha, mas eu consegui pisar em um prego de madeira com menos de 1km de caminhada. Ao sentir a fisgada no pé, meu reflexo foi me jogar no chão para não colocar mais peso sobre o pé potencialmente ferido. Por sorte o prego não perfurou meu pé, mas passou pela sola e pela palmilha e fez um pequeno arranhão na planta do pé. Tirei o prego, removi o sapato, inspecionei, passei um swab (pequeno lenço com álcool) para desinfetar, fiz um remendo com micropore e voltei a calçar a bota e retomamos a caminhada 5 minutos após o ocorrido. O machucado não foi grave a ponto de incomodar pelo resto da jornada.

A parada estratégica no túnel 27

Paradinha estratégica no túnel 27 para reagrupar e comer alguma coisa.

Caminhar na via férrea no seco já é cansativo, imagine à noite, sob garoa e neblina é mais ainda. O ambiente é muito diferente de qualquer trilha que eu tenha feito. O movimento dos trens de carga é muito mais intenso do que eu imaginava. E a cena deles vindo com aquele farol amarelado, surgindo da neblina, vou me lembrar para sempre!

Após 2:30h de caminhada, chegamos no início do primeiro túnel e metade do trajeto. Neste ponto existe um recuo que permitiu reagrupar a tropa para um breve descanso. Desequipados, tomamos uma água, comemos alguma coisa, tiramos umas fotos e demos um tapa no conhaque com mel e limão para dar uma animadinha.

Caminhar dentro do túnel é um desafio à parte. É um ambiente que está sempre úmido, e os dormentes de madeira sempre são escorregadios. Tentamos apertar o passo instintivamente por conta do espaço reduzido para se abrir caso passem dois trens ao mesmo tempo, mas é preciso tomar cuidado com tombos. Pegamos alguns trens dentro dos túneis, mas nunca dois ao mesmo tempo. Embora haja espaço para se abrigar, confesso que dá um cagaço só de pensar nessa situação.

O fim dos trilhos

Partindo do túnel 27, seguimos em direção ao túnel 24 (a numeração é decrescente, pois historicamente, a linha férrea conecta o porto ao “interior”). Este passeio de dia deve ser bem bonito pois passamos por pontilhões e encostas bem altas. Em alguns momentos era possível avistar ao longe, as luzes da cidade de Mongaguá. Com 5 horas de caminhada, atravessamos o túnel 24, faltava 1h para amanhecer. Como não dá pra descer no escuro, montamos uma base em um recuo no final do túnel. Esticamos uma lona para colocar as mochilas e deitar um pouco até o sol nascer. Alguns foram fazer um café e contar piadas, mas a maioria capotou para recuperar um pouco das energias em preparação para a dura descida que nos aguardava.

O céu começou a limpar, e nos presenteou com uma vista completamente surreal das estrelas. As pessoas fazem caminhadas por diversos motivos: pelo desafio, pelo exercício, mas o que mais me agrada são as paisagens que a natureza presenteia somente àqueles que se dispõem a levantar do sofá e se conectar com ela. Eu posso te mostrar uma foto, mas te garanto que ver pessoalmente é uma sensação indescritível.

Cafezinho antes de enfrentar a descida

A aventura mais difícil da minha vida

Seis horas da manhã, os primeiros raios de sol indicavam que estava na hora de iniciar a descida. Eu já tinha ouvido os relatos dos antigos por diversas vezes, mas viver aquilo seria diferente. Uma caminhada de 2,5 km, partindo de 770m de altitude, terminando a 5m do nível do mar. Uma descida forte, que levaríamos 6h para completar.

Por conta da pandemia, a trilha ficou abandonada, e a natureza rapidamente fez seu papel e tomou toda a trilha nesses 2 anos de hiato. Após um trabalho rápido de reconhecimento, encontramos a trilha e iniciamos a descida. Muito barro, muito espinho e muita risada. Até apostamos que quem caísse na trilha pagaria uma caixa de cerveja no final. Com 50 minutos de caminhada já não tinha mais nenhum invicto. Todo mundo já tinha prenda para pagar no final da trilha. O esforço para descer de forma controlada era tão grande que comecei a suar e sentir mais calor que na madrugada fria e molhada da noite anterior.

Primeiros raios de sol saindo. Hora de levantar.

A umidade na serra do mar é impressionante. Árvores caídas com o tronco mais espesso que o corpo de uma pessoa, literalmente se desmanchando pela rápida decomposição que este tipo de ambiente propicia. Se equilibrar era um desafio pois além da forte inclinação, havia muitos troncos cobertos de espinhos. Luvas e um bastão de caminhada resistente são essenciais para esta trilha.

Antes de chegar no acampamento, o peso da mochila começou a me afetar. Em um dado momento minhas pernas simplesmente não responderam mais e eu desabei de cansaço. Tive que tomar um relaxante muscular forte e fazer uma pausa para poder continuar. Naquele momento parei para refletir o quanto somos pequenos diante da natureza. Eu ainda conseguia ouvir os trens passando, a menos de 2km dali. Aquele pequeno trecho de descida fortemente acidentado me destruiu de uma forma que eu não imaginava.

Passados 10 minutos após tomar o remédio, me coloquei de pé e um amigo se ofereceu para levar minha mochila até o acampamento. Se eu insistisse em levar a mochila, eu atrasaria mais o grupo, e o horário de chegar já estava apertado. Fui aconselhado a ceder então entreguei a mochila e seguimos adiante. Levei apenas o cantil, a bolsa de cinto e o bastão de caminhada. Em 40 minutos chegamos ao acampamento: uma pequena clareira ao lado do rio Branquinho, num ponto com uma cachoeira e piscina natural. Para quem saiu daquela descida massacrante, aquilo era um resort 5 estrelas!

Era próximo de 13h quando começamos a limpar o local e montar as barracas. Dispusemos as barracas em meia lua, com uma árvore grande ao centro onde amarramos os paracords e jogamos uma lona por cima para fazer uma área comum. Neste local já haviam sido reunidas diversas pedras para fazer a fogueira. Colhi algumas laranjas para comer junto com a refeição. Aliás, muitas frutas são encontradas por perto, resultado de 30 anos acampando no mesmo local.

Acampamento montado, fui direto para a cachoeira. Precisava da água gelada para relaxar os músculos das pernas que estavam fatigados. Aproveitei para lavar o barro das roupas e colocar para secar nas pedras. Iria continuar utilizando aquelas roupas no dia seguinte.

Preparei o lámen com calabresa e queijo, voltei para a água e comi ali mesmo enquanto relaxava na piscina natural. Não tem vida melhor que essa!

Barriga cheia e acampamento montado, resolvi tirar uma soneca, eram 16h. O pessoal foi pescar uns lambaris pra comer a noite e eu tomei um Dorfex e fui deitar um pouco.

Senhoras e senhores, a melhor dica para dormir bem no acampamento é estar cansado! Apaguei às 16:30 e fui levantar só as 22h quando soltaram uma bombinha atrás da minha barraca! Eu estava perdendo o melhor da festa. Então pulei pra fora da barraca e fui papear com o pessoal! Fizemos churrasco de bacon, peixe frito, tomamos uns drinks e contamos muita piada!

Um conforto providencial no meio da selva: cheirinho de bacon assado!

Por volta de 01:00h fomos dormir. Ajeitamos a fogueira para ela não apagar e nos retiramos.

O segundo dia

Eu havia despertado às 5:50 e comecei a arrumar as minhas coisas com antecedência. Como passaríamos por muitos cruzamentos de rio, esvaziei o bolsa de hidratação na intenção de aliviar a minha mochila. O cantil seria enchido durante as travessias, água não faltaria no caminho.

Às seis horas da manhã o capitão Marcelo passou despertando a tropa. Militar reformado do Exército, ele sabia muito bem como acordar um bando de marmanjos bêbados e dorminhocos.  Tínhamos que sair rigorosamente às 7h para dar tempo de chegar no ponto de ônibus e pegar o último ônibus para o centro de Itanhaém. Tomamos um rápido café, desmontamos acampamento e pontualmente às 7h já estávamos andando.

Andamos uns 20Km até a aldeia TEKOA YANKA TIIM PORÃ. Passamos por muitas, infinitas, intermináveis travessias de rio. Impossível manter os pés secos nessa trilha. Graças às dicas do meu amigo Ismael, utilizei algumas pomadas que permitiram terminar a caminhada sem nenhuma bolha nos pés. O único prejuízo que tive foram 5 unhas que caíram devido à pressão do calçado durante a descida, que exigiu muito esforço, mas mesmo assim, após um dia inteiro com os pés molhados, não tive bolhas.

A primeira casa da aldeia, na região chamada de “aldeia antiga”, é a casa do Sr. Veratupã. Um índio muito velho e meio brabo. Ele vive praticamente isolado do resto da tribo, que se mudou para uma região afastada cerca de 1km, do outro lado do rio Itanhaém fugindo das enchentes e desmoronamentos que aconteciam na parte antiga. O Sr. Veratupã decidiu permanecer em sua casa, desafiando toda a sorte de intempéries. As trombas d’água costumam ser muito violentas naquela região, pois praticamente toda a enxurrada daquela parte da serra passam pela aldeia e o rio Itanhaém (formado pelo Capivari-monos) se junta com o rio branquinho ficando muito forte após qualquer chuva, sendo muito comum a transformação do leito do rio a cada tempestade que ocorre.

A última travessia foi a mais longa. Ela cruza o rio Itanhaém na sua parte mais larga, bem na entrada da parte nova da aldeia. Fizemos uma fila indiana e fomos em passos curtos, sempre usando o bastão de caminhada como terceiro apoio. Havia chovido na noite anterior, mas o rio estava relativamente calmo.

Cruzamos rapidamente a aldeia, numa marcha sem parar. Fomos orientados a não olhar diretamente para as índias. As crianças olhavam em nossa direção, curiosas para saber de onde vínhamos. Mas me chamou a atenção a organização e beleza do lugar. Tudo muito limpo e bem cuidado, da saída da Aldeia até o Bar do Zé pretinho faltavam ainda 14,5km de caminhada. O sol estava bem forte quando chegamos na pequena ponte que demarcava o fim da terra indígena e o início de um gigantesco bananal.

Nesse ponto da caminhada, um outro colega estava colapsando de cansaço. O sol estava realmente castigando. Eu também estava com a moral bastante baixa pois as dores nas pernas estavam voltando a incomodar bastante. Felizmente encontramos uma caminhonete carregando bananas e verduras. Paramos e pedimos carona para nosso amigo e nossas mochilas. Me aconselharam a ir junto para dar apoio e cuidar das mochilas. Eu não recusei pois não queria atrasar o grupo e sabia que eu seria o próximo a colapsar.

Carona que caiu do céu! Sr. Osvaldo ajudou a transpoortarmos as mochilas até o proximo ponto de parada.

O Índio Sr. Osvaldo e sua Esposa foram muito simpáticos e nos ofereceram bananas e laranjas para comer. Eles estavam subindo para São Paulo para levar frutas e verduras para a parte alta da aldeia, que fica próximo à estação Evangelista de Souza.

O Bar do Zé Pretinho

Chegamos por volta de 14h no ponto final da nossa aventura. Descarregamos as mochilas da caminhonete e nos despedimos do Sr. Osvaldo. O bar abriria apenas por volta das 17h pois o Sr. Zé Pretinho faz feira aos domingos. Tínhamos 3 horas para nos recuperar, tirar os sapatos, relaxar e torcer para nossos amigos conseguirem completar o último percurso ou conseguir uma carona.

Às 16h eles chegaram na carretinha de um trator, que deu carona para eles nos últimos 4 km do percurso. Fizemos uma baita farra, comemos e bebemos. Tínhamos que esperar o ônibus para a rodoviária, que chegaria às 19h.

Encerramos a nossa aventura com uma foto da tropa junto ao Sr. Zé Pretinho.

Ao centro o Sr. Zé Pretinho, amigo que acolhe a tropa todos os anos a mais de 30 anos após a aventura.

Conclusão

Eu me despedi com uma vontade enorme de retornar no próximo ano. Mais preparado e mais experiente. Foi uma aventura fisicamente muito difícil, mas igualmente muito gostosa de realizar. Vimos paisagens que poucos têm a chance de ver, pois são muito poucos que têm à disposição e coragem para realizar uma caminhada desta. Para mim esse tipo de experiência só me ajuda a dar valor às coisas simples da vida. Podemos ter tudo, e às vezes mesmo assim achamos que não temos o suficiente. Quando estamos no mato, apenas com uma mochila e barraca, cansados e doloridos, percebemos que somos insignificantes perante a grandiosidade da natureza. O melhor sono da minha vida foi dentro daquela barraca, quando deitei exausto, mas abrigado e quentinho. A melhor refeição foi miojo com queijo, preparado na beira do rio.

Esta aventura me marcou, e certamente considero este feito, um rito de passagem. A mudança de chave de ex obeso sedentário para uma pessoa que após conhecer o Sobrevivencialismo, resolveu tomar as rédeas da vida e sair do piloto automático e assumir a responsabilidade por mim e minha família. Fico muito feliz e agradecido pelo convite do meu amigo Amauri, pelo carinho e companheirismo de toda a tropa e orgulhos de fazer parte desta tradição tão legal do Paulão e sua família!

Termino da nossa aventura, aguardando o ônibus para a rodoviária de Itanhaém.

Ressucitando um router Lynksys WRT54G

Olá!

A bola da vez é um Router Lynksys WRT54G V2 que ganhei do meu amigo Marcelo Genaro. 

Ele estava fazendo um barulho estranho parecia um assovio baixinho, aquecendo demasiadamente e travando (provavelmente por super aquecimento). De cara ví que o conector do brick 12V estava maus então soldei um rabicho temporario e já incluí um novo conector na lista de peças à serem trocadas. Ao abrir o danado, observei dois capacitores que estavam meio estufados e com o router ligado, ví que o ruído vinha das bobinas de filtragem da linha de alimentação da placa.

Analisando um pouco o circuito da entrada de energia, encontrei o CI AC1501-3 que é uma fonte chaveada de 1A. Este danado estava esquentando muito então para poder fazer as medições, eu instalei um dissipador de calor com fita térmica dupla face.

Abaixo do dissipador está o chip da fonte chaveada. A foto nao ajuda, mas os capacitores estao meio estufados. O ruido vinha daquelas bobininhas proximo do conector da fonte.

Continuando com a inspeção visual, nao encontrei mais nada suspeito. Entao era hora da investigação das causas do aquecimento de do barulho. Em conversa com os amigos do Garoa Hacker Clube, descobrí um artigo interessante sobre capacitores eletroliticos, especialmente esta parte: “Capacitors can lose capacitance as they age and lose electrolyte, particularly at high temperatures. A common failure mode which causes difficult-to-find circuit malfunction is progressively increasing ESR without change of capacitance, again particularly at high temperature. Large ripple currents flowing through the ESR generate harmful heat.”

Em resumo, oque está escrito alí diz que na medida que os capacitores envelhecem eles tendem a perder eletrólito, especialmente sob altas temperaturas. E que uma falha comum e meio foda de detectar nestes capacitores é o aumento da ESR (resistencia equivalente em série) sem mudança (ou uma mudança muito pequena) na capacitância, também sob altas temperaturas. Grandes ripples de corrente (ainda mais se tratando de fonte chaveada) atravessando esta ESR alta geram calor indesejável.

Sendo assim, resolvi trocar os capacitores de 220uF 25V por uns mais novos. 

 Aqui os capacitores já trocados.

Após a troca dos capacitores, liguei tudo e observei uma redução drástica do aquecimento, porém o ruído do filtro ainda estava lá. Com o oscliloscópio ví que se tratava de um ruido com frequencia muito proxima de 60HZ sendo assim, algo estava errado com o brick e após conectar outra fonte, o barulho sumiu! Vitória!! 

Após isto coloquei um xbee na porta Serial 0 (esse modelo tem duas Seriais internas LVTTL) e instalei o firmware do OpenWRT 🙂 e ganhei mais um router Linux Enabled para brincar.

O danado funcionando. Basta esperar chegar o conector definitivo e vai estar zerado! O dissipador do processador eu retirei mas decidi deixar o da fonte para que ela nao se estrague caso o defeito volte a acontecer.

Nas minhas pesquisas, o problema do super aquecimento deste modelo é bem comum. Ten gente que acaba metendo um cooler no processador ou uma ventoinha adaptada no case do router. Talvez valha à pena ver se os capacitores estao legais 😉

até a próxima! 

OpenWRT como plataforma wireless para projetinhos

Olá!

Como estou de férias posso tirar o atraso nos projetinhos que tenho tocado, e um deles é uma demonstração de como um simples roteador WiFi pode se transformar numa excelente plataforma wireless para eletrônica!

A idéia:
   
    Outro dia, na hora do almoço, eu e meu amigo Guto, – que também gosta de eletrônica e já é formado em Eng. Elétrica – estávamos conversando sobre formas de se implementar um controle remoto de baixo custo, capaz de suprir as necessidades básicas de qualquer projetinho. Analizamos diversas opções, desde shields p/ arduino, chips ethernet embutidos em MCU’s Microchip, mini placas x86 (ALIX PcEngines), avr32 (NGW100), etc, etc… Em um dado momento conversamos sobre a possibilidade de se utilizar um modem ou roteador wireless qualquer que pudesse rodar linux, foi quando o Guto comentou que ele já havia feito alguns testes e que o resultado era satisfatório. Pronto! nao preciso falar mais nada! Comecei a caçar um modelo que pudesse rodar linux. Acabei comprando um modelo da TP-Link WR1043ND por indicação do próprio Guto (valeu cara!) e mergulhei de cabeça na ‘Fuçada’.

Especificações do router (tiradas do site do OpenWrt)

CPURamFlashNetworkGigabitUSBSerialJTag
Atheros AR9132@400MHz32MB8MB4×1SimSimSim (interna)SIM

    Confesso que não perdí muito tempo na firmware original que veio com ele, e acabei usando-a apenas para executar o procedimento de instalação (que pode ser acessado aqui). Gostei muito do OpenWRT, boota muito rápido, é extremamente customizável e possui um gerenciador de pacotes muito legal, o opkg. É com ele que iremos instalar os drivers da placa de rede sem fio do Router.

Instalando os drivers wlan no router:

    Faça o router acessar a internet via cabo. Para isto existem diversos métodos, o mais comum é colocar a interface wan dele para adquirir um IP automaticamente e pluga-lo em uma porta livre no seu switch, ou entao compartilhar a conexão do seu laptop roteando a placa Lan para a rede wireless. Nao vou entrar nos detalhes no momento mas nao se preocupe que isto é muito simples e se voce nunca fez, está cheio de exemplos na internet.

    Com o router acessando a internet, rode os comandos abaixo:

    Após isto, reinicie o router e voce terá a parte de wireless funcionando.

Preparando o ambiente:

    Uma das coisas mais legais que o OpenWRT tem é o gerenciador de pacotes opkg (já falei disso, né?), ele permite voce instalar diversos pacotes já compilados para a plataforma mips, poupando muito trabalho para por o seu projeto em andamento. Uma das primeiras coisas que instalei foi o Python, que será a base para a comunicação com meus projetos.

    Pra começar, é importante ficar claro que a memória interna de qualquer equipamento deste tipo é bem limitada, este foi um dos motivos que levei em conta ao escolher um modelo com porta USB, pois com ela e um pendrive, eu posso expandir o storage interno dele para colocar mais coisas legais 🙂 .
   
    EPA! como fazer isso ?

    Bem, para isso nao tinha muita receita de bolo pronta na net, entao, seguem os passos que eu executei:
   
    1 – Instalar suporte para Mass Storage USB
        Esta parte foi relativamente simples, com o router acessando a net, execute os comandos abaixo:

    2 – Instalar drivers USB 2.0
         Para isto, execute:

    3 – Instalar o suporte ao sistema de aqrquivos ext2

Com estes passos, espete um pendrive na porta USB e verifique as mensagens do kernel e procure por uma linha parecida com esta:


            scsi 0:0:0:0: Direct-Access     Kingston DT 101 II        PMAP PQ: 0 ANSI: 0 CCS
   

Isto significa que seu pendrive foi reconhecido com sucesso e está pronto para uso, bastando formatá-lo em padrao Linux EXT2 e montá-lo no caminho desejado.
   

OK, até o momento temos o router com um storage aumentado, agora vamos configurar o opkg para usar este espaço para instar os pacotes. Para isto, edite o arquivo localizado em /etc/opkg.conf, que deverá se parecer com isto:

  Adicione um novo destino, no meu caso, o pendrive está montado em /mnt e vou chamar o destino de usb:


    A primeira linha é a declaração do repositório de onde o opkg vai baixar os pacotes, note que o final da URL pode variar de acordo com o modelo/plataforma de seu device e a versão do seu OpenWRT.

    Prontinho, agora temos o opkg configurado para usar o espaço externo como path de instalação. Para usá-lo voce precisa especificar o destino, da seguinte forma:

    Agora que temos o opkg como destino dos pacotes, vamos para a próxima parte, que é a instalação do python.

Instalando o python no OpenWRT
   
    Aqui cabe uma observação, pelo que eu fucei, existem dois tipos de pacotes que instalam o python, um é o python-mini que é uma versão light do python, e até cabe na memoria interna do router, porém, faltam diversas libs, como por exemplo as libs de porta serial. Até daria para copiar as libs pra dentro do router conforme for sendo necessário, mas é um saco ficar fazendo isso, e como temos espaço de sobra agora, vamos logo colocar o python completo!

    Prontinho, python instalado!  Agora, para fazer o python se comunicar com o mundo exterior, vamos instalar os drivers do conversor USB/Serial.

Instalando os drivers do PL2303 no OpenWRT

    Este procedimento é super dificil de ser feito, coisa que voce ainda nunca viu antes 😛

    Agora espete um conversor USB/Serial com chip prolific pl2303 e verifique nas mensagens do kernel se aparece algo assim:

    Pronto, voce tem uma porta serial adicional ao seu router! para usá-la junto com o pendrive, basta plugar um HUB USB2.0 (uso um de 4 portas sem alimentação externa).

    Mas peraí! Na tabelinha logo acima já diz que existe uma porta serial nesse cara! como é isso ?

    Bem, existe sim, mas nao é muito bom usá-la para automação/comunicação, ela é uma porta de console, com ela voce pode acessar a shell do router, como num terminal serial de um servidor unix. O próximo passo mostra como usa-la.

Console serial para o WR1043ND
   
    Dentro do router existe uma porta serial com níves LVTTL (3.3v). Com ela é possível acessar a console serial do router, caindo diretamente na shell, porém como os níveis de tensão sao muito abaixo dos níveis das portas seriais comuns, nao é possível utiliza-la diretamente, sendo necessário fazer algum tipo de interfaceamento. No meu caso, como eu costumo utilizar muito a dita cuja, mas o mesmo router que eu fuço é o router que distribui a grande rede pro resto da casa, nao posso deixar ele aberto o tempo todo, entao eu coloquei um XBEE da Maxtream nele, e acabei com uma porta serial de console wireless, sem a necessidade de componentes adicionais.

Veja:

O conector precisou ser soldado, mas nao é tão complicado, precisa de um suga solda pra desentupir os furos antes.

Conector soldado, repare que abaixo existe um outro conector, JP1, que é o JTAG do Atheros

Aqui o serviço pronto, console serial wireless, o XBEE cabe dentro do modem com a antena whip a 45 graus. Isolei os pinos extras pra evitar curtos.